Solidariedade em alta – Cientes de sua condição favorável num cenário de risco e queda de vendas em geral, as empresas do setor de alimentos de Santa Cruz se ocupam em abastecer o mercado sem ter qualquer garantia da futura liquidez de seus clientes. A confiança e o espírito solidário são a tônica das linhas de condutas que estão adotando. Elas também não deixam de contribuir com a comunidade, seja através de doações de recursos, caso da Santa Massa, que contribuiu para a campanha da Santa Casa da cidade, seja distribuindo produtos e itens de segurança, como fez a Special Dog com a produção de máscaras para serem distribuídas à comunidade, um trabalho realizado pela área de corte e costura de seu Centro Cultural, cujas demais atividades foram suspensas.
O comércio de portas fechadas – No comércio, onde o isolamento determina o atendimento exclusivamente por delivery, a situação apresenta mais impacto. “Registramos uma queda de 70% das vendas depois que fechamos a loja, justamente na época da Páscoa, perío-do importante para nossos resultados”, afirma Eliana Almeida Mello Mendonça, proprietária da Stoke, uma grande loja de Santa Cruz que vende roupas, artigos de armarinho, brinquedos, materiais escolares e de escritórios, itens de decoração e presentes em geral. Para driblar a situação, ela se valeu de sua reserva financeira, deu férias a uma parte dos colaboradores e intensificou a comunicação on line, oferecendo kits de diversos tipos para quem está confinado em casa. “Não cobramos taxa de entrega e nos prontificamos e levar tudo que o cliente precisa”, diz a lojista que procura se valer dos produtos em estoque para atender os clientes, o que não é pouca coisa para quem conhece a loja. “Agora vamos focar o Dia das Mães, tanto com itens para se produzir em casa quanto presentes em geral”, afirma.
Acostumada a rodar milhares de quilômetros todos os meses para tirar pedidos de seus clientes, a representante comercial Aldine Rocha Manfrin está há mais de um mês fazendo todo o trabalho em casa. “Faço tudo por telefone ou whatsapp”, diz ela, que também teve que lidar com uma queda no volume de pedidos dos clientes e procura analisar a capacidade de pagamento de quem continua comprando. “O fato de ter um bom relacionamento com os clientes tem ajudado muito a fazer o atendimento à distância”, afirma a vendedora que atende lojas de alimentos para pets, que continuam sendo autorizados a manter as portas abertas. “Todo mundo está se adaptando. Em cidades menores, os lojistas atendem os clientes na loja, com todos os cuidados. Aqui em Franca, estão usando bastante o sistema de entregas. E tem cliente que levou o atendimento para a porta da loja”, conta. Para ela, a qualidade do relacionamento é a principal ferramenta para continuar trabalhando e conseguir manter as vendas nos próximos meses. “Contatei todos os clientes e não falamos só de vendas, mas também da vida”, ensina a representante comercial da Special Dog.
Para Arthur Araujo, presidente da Associação Comercial e Empresarial de de Santa Cruz do Rio Pardo, a situação traz o desafio de ter que lidar com algo sem precedentes e sem diretrizes a serem seguidas. A entidade que dá suporte ao comércio da cidade, tomou vá-rias medidas logo após o fechamento do comércio, como isenção das mensalidades dos associados por dois meses, o atendimento com hora marcada e o desenvolvimentos de um sistema de e-commerce pra abrigar todos os lojistas em um única plataforma de venda, que está em desenvolvimento. “Estamos nos mantendo atentos a todas as medidas que estão sendo tomadas pelas autoridades sanitárias e divulgando as informações de apoio aos nossos associados”, diz Araujo, dono de uma grande loja de brinquedos e produtos para casa, atualmente fechada. “A união é necessária em todos os segmentos”, avalia.
Ensino à distância e férias antecipadas – Não apenas nas empresas a antecipação das férias tem sido uma importante solução. Diante do prolongamento da quarentena, que deve durar mais de 60 dias, escolas, como o Colégio Santo Antonio, em Ourinhos, resolveram antecipar as férias de julho. Já a Unifio, centro universitário de Ourinhos, adotou o sistema de ensino à distância, suspendeu todos os eventos acadêmicos e o uso dos auditórios. Ciente da necessidade de manter uma estrutura mínima funcionado, como a biblioteca e os laboratório, tomando todas as medidas sanitárias determinadas pelas autoridades de saúde. “A partir de 23/03, iniciamos nossas aulas para o Ambiente Conhecer, espaço virtual em que alunos e professores seguem com suas atividades acadêmicas”, conta o reitor da Unifio, Murilo Ángeli dos Santos. “Tudo foi feito em tempo recorde, em uma operação de guerra capitaneada pela equipe do nosso Núcleo Tecnológico de Educação Aberta”, explica.
Segundo Santos, para superar esse desafio, a Unifio precisou fazer investimentos imprevistos em tecnologia, especialmente em equipamentos e espaço em servidores. O centro universitário também se debruçou em ações comunitárias. “Ampliamos nossas atividades de extensão com parcerias para fabricação de álcool 70° para distribuição gratuita em hospitais, postos de saúde, asilos e sociedade em geral; produção de máscaras de proteção individual para distribuição gratuita para equipes de saúde; e projeto de fabricação de respirador mecânico para pacientes infectados; entre muitos outros”, informa o reitor da Unifio.
Os desafios, segundo ele, não param por aí. “Dependemos muito do pagamento das mensalidades e sabemos que, com o período isolamento social, algumas famílias enfrentarão dificuldades econômicas e poderemos ter inadimplência. Isso nos preocupa muito, especialmente se o período de isolamento precisar ser muito longo”, avalia Santos. “Não podemos parar. Sabemos da importância social da instituição para as regiões do sudoeste paulista e do norte paranaense. Nosso papel nesse cenário de pandemia é essencial e seguiremos com todas as medidas de segurança e muito confiantes”, diz o reitor. Para ele, essa situação mostra a importância da solidariedade. “Agir de forma solidária em parceria com empresas é fundamental para a humanidade e nos torna mais fortes que qualquer pandemia mundial”, conclui.