A educadora Layss Pinheiro é doutora em Literatura e leciona há quase 30 anos. Professora das séries da Educação Básica no Colégio Camões, em Santa Cruz do Rio Pardo, ela nos ajuda a avaliar o conceito de padronização de comportamento de crianças e adolescentes:
360: Como educadora, qual sua avaliação a respeito das particularidades de cada criança e adolescente?
Layss Pinheiro: Cada criança é um universo a ser desvendado e a ser acolhido. Os adultos são responsáveis por ajudá-las a conhecer a si mesmas, suas singularidades físicas, emocionais e comportamentais de maneira que possam desenvolver autoestima serem felizes e saudáveis. Na escola, a criança adentra em um ambiente propício para interagir, conhecer as diferenças e se reconhecer como diferente. Vejo a escola como um ambiente que favorece a estruturação da identidade, de sua autoimagem e de valorização e respeito à diversidade.
360: Muitas escolas orientam pais a procurarem ajuda psicológica para filhos que fogem de um padrão de comportamento. Isso não seria uma forma de induzir os pais a padronizarem os filhos?
Layss Pinheiro: Entendo que não é a “fuga de um padrão de comportamento” que pode levar a escola a orientar os pais a procurarem orientação psicológica, mas quando o comportamento da criança apresenta indícios de que algo não vai bem com ela. Uma criança muito agressiva, muito inquieta, que fica tentando chamar atenção exageradamente pode ser sinal de distúrbios que, se não tratados por profissionais, podem comprometer a aprendizagem e a convivência saudável com os pares.
360: Quais as vantagens e desvantagens para a criança em ter seu comportamento padronizado?
Layss Pinheiro: Nenhuma padronização é saudável. A criança deve ter liberdade de ser e expressar aquilo que ela é.
360: Como as demais crianças reagem a colegas que fogem do padrão?
Layss Pinheiro: As crianças estão abertas para aprender. Se forem ensinadas a respeitar, se conviverem em ambiente que respeita a diversidade, irão, naturalmente, aprender a respeitar o outro. Obviamente que, pelo fato de vivermos em uma sociedade em que a intolerância e o preconceito estão presentes em todos os espaços, as crianças acabam reproduzindo isso ao chegar no ambiente escolar. Cabe às instituições escolares – e esse é seu papel – cultivar o respeito às diferen-ças das mais diversas formas. Por exemplo, através de projetos, de leituras, de encenações, entre outros.
360: Como educadora, que dica você daria aos pais de crianças fora do padrão?
Layss Pinheiro: Antes de mais nada, não acredite em padrão. Se um adulto idealiza um padrão para uma criança, muito provavelmente ela vai acreditar que só vai ser amada se for aquilo que esperam que ela seja. Penso que deveríamos voltar nossos olhos para as crianças com um olhar menos questionador e mais acolhedor, menos crítico e mais flexível. Acredito que o único caminho para a felicidade plena é ser quem você é. Então: que os adultos ajudem as crianças a saberem quem elas são.