Água é essencial para gente viver. É óbvio. O óbvio ululante. Mas as pessoas precisam ser recorrentemente lembra-das disso. Que a água é vital, que sem ela nada acontece. E lembrar também que isso é indiscutível. Óbvio, portanto.
Em casa precisa de água pra beber, para cozinhar, pra limpar (casa, utensílios, roupas), para tomar banho. Como produzir um alimento sem água? Não dá. Nem a indústria, nem a agricultura são capazes de produzir um grão ou um grama sem água, muita água por sinal.
Por que será, então, que o homem se preocupa tão pouco com isso? E, pior, por que não é capaz de zelar, resguardar e preservar a água que tem?
Ourinhos, uma nobre cidade de mais de 100 mil habitantes é banhada por dois grandes rios. O Paranapanema e o Par-do. E vive sem água. Seus moradores, da periferia a bairros nobres, reclamam constantemente da falta de água em suas casas e empresas nas redes sociais. Por que será que ela falta? E por que será que não se luta por elas?
Até o século passado, gerar energia era uma grande necessidade para o país. E usar os fartos rios brasileiros, riquezas gigantescas, que nenhum lugar do mun-do tem (quanto mais raro, mais caro) para gerar altas voltagens para abastecer todos os Estados, tornou-se o principal meio de produzíla.
Quando chegou o novo século, já se sabia que essa forma de gerar energia trazia consigo um enorme problema: ela compromete o curso natural da água, extingue extensas áreas de mata nativa, que não se recompõem nem a curto, nem a médio, nem a longo prazos, e promove o enfraquecimento do potencial aquífero de seus entornos. Ou seja, toda a água subterrânea, usada para abastecer as torneiras da cidade, as indústrias e todas as lavouras e criações, vai sendo mal alimentada.
Enquanto se dava conta disso, o homem também descobriu que não é necessário sacrificar os rios com barragens para ge-rar energia. Para isso, há matérias-primas mais sustentáveis, ou seja, que não se esgotam, como pode acontecer com a água. Então passou-se a usar o vento, o sol e até mesmo o movimento das ma-rés, nos oceanos, para geração de energia elétrica. A mudança é tão grande e irreversível, que até telhas comuns com capacidade de gerar energia solar estão sendo fabricadas, inclusive no Brasil.
Mesmo assim, homens que parecem não conseguir pensar em outra coisa senão em tirar alguma (ou muitas) vantagem financeira em tudo que fazem, mesmo que isso envolva agir com base na ignorância e na irresponsabilidade, insistem em fazer mau uso da água e, pior, a comprometer a permanência desse bem essencial, até então farto na nossa região e no nosso país.
Esta edição de SOS Rio Pardo Vivo vem atualizar os leitores sobre a situação crítica em que se encontra o rio Pardo, que abastece 15 municípios com suas águas limpas, e apontar soluções para evitar que isso se agrave e também para que possamos recuperar o potencial aquífero da nossa maior riqueza. Afinal, ele garante não apenas a água nossa de cada dia, mas também interfere – e muito – no volume de chuva que cai sobre nosso solo rural e urbano.
Boa leitura!
Flávia Rocha Manfrin
editora do jornal 360 e ativista do Movimento pelo Rio Pardo Vivo