360: Quanto tempo demora para migrar para o sistema agroflorestal? E o que o produtor, que investiu faz com seus equipamentos? Como aplicar numa grande extensão de cana, que usa máquinas gigantes. Ou numa estufa de melão?
Paula: Agrofloresta é um termo genérico porque existem mil possibilidades, mil formatos e conformações para a implementação um sistema agroflorestal. Não tem espécie, espaçamento ou arranjo espacial predeterminado. O que vai determinar é o agricultor, o contexto e, principalmente, os recursos já existentes. A maneira como ele já faz a agricultura é importante porque o sistema tem que ser aderente, tem que fazer sentido para aquele agricultor, para dar certo.
Por exemplo, quando falamos de um pequeno agricultor, que é pouco capitalizado e tem uma área pequena, é possível fazer uma maneira um mais biodiversa, mais complexa, já que é aquele agricultor menor que conhece cada cantinho do sistema dele, que vai manejar e vai cuidar. Agora, quando é um sistema que precisa ser mecanizado e incluir algumas espécies como a cana, que você mencionou, os arranjos e espaçamentos das árvores vai ser determinado pela largura das máquinas. A entrelinha vai ser larga o suficiente para a máquina passar e transitar, não tem problemas nenhum.
O sistema é adaptável a todos. No caso do melão, a ideia é que a agrofloresta faça o papel da estufa e que a biodiversidade promova um sistema sem o ataque tão intensivo de pragas e doenças.
O que tem que ficar claro é que a viabilidade econômica vai ser proporcional ao planejamento que o agricultor fizer. Então, nada impede que ele faça um sistema que tenha, por exemplo só duas espécies. Eu tenho linhas de eucaliptos a cada 35 metros intercalados com linhas de cana, sem problema algum. Simplesmente dobrou o número de espécies no cultivo e incluiu árvores na paisagem. Isso já é um grande avanço.
Tem todo um gradiente de possibilidades, desde um sistema mais simplificado até um mais complexo, com 50 espécies. Não tem que insistir em dizer que só é agrofloresta quando tem mais de 30 espécies porque não é assim. A gente tem que ter árvores na paisagem, biodiversidade e tem que ser gradual para que os agricultores consigam transformar essa maneira de pensar.
360: Como os produtores podem ter acesso a esses sistemas da Pretaterra?
Valter: Existem várias formas. A Pretaterra tem muito material publicado, é possível replicar o que já está feito. Nós fazemos um trabalho muito forte em redes sociais. No nosso canal do YouTube há vários cursos completos. Se precisar de um financiamento, é importante buscar uma consultoria onde a gente oferecemos toda a modelagem financeira, inclusive de carbono, se a ideia for a venda de créditos de carbono no futuro.
Também oferecemos uma plataforma para pequenos proprietários que não podem se comprometer com a consultoria , o Academy, uma frente da Pretaterra que se dedica a cursos de formação e mentorias. Nós juntamos grupos de pessoas que têm o mesmo objetivo, como por exemplo o café, e nós damos mentorias. Conversamos por uma série de reuniões online, remotas, onde ajudamos a traçar uma linha, nortear como funciona o sistema. Outra frente são os cursos, já gravados, que pode fazer por módulos. Nós temos os módulos Pioneer, Intermediate e Climax. E tem o primeiro curso de todos que é Seeds (sementes), totalmente de graça, que está no nosso site. É só se cadastrar, fazer os cursos que, ao concluí-los, recebe uma certificação.
Uma outra forma de fazer a consultoria, sendo pequeno, é fazê-la remota. Principalmente agora em tempos de Covid-19. O proprietário envia as análises de solo, envia o kmz, a delimitação da área pelo Google Earth, diversos vídeos e fotos do solo, da área. Com essas análises, a gente faz toda uma revisão demográfica de produção e fazemos uma série de conversas, tudo remoto.
Agora, é claro que temos diversas fases. Desde a fase de imersão e diagnóstico até a fase de planejamento, modelagem financeira e depois a fase de campo de fato, onde a gente vai presencialmente e implanta. Nossa equipe pode implantar 100%, na área que for, do tamanho que for, pequeno médio ou grande. Ou capacitando as equipes locais. Ou simplesmente acompanhando nos primeiros dias para garantir que o processo seja seguido como planejado.
De qualquer forma, se o proprietário tiver sua própria equipe ou quiser contratar uma outra equipe para implantar, ele terá condições de conduzir inteiramente a conversão à agrofloresta, sem a necessidade de nos estarmos presentes.
360: Vocês estão lançando um projeto para cafeicultores de Timburi. Do que se trata?
Paula: Levamos dois anos em busca de apoio para construir um projeto agroflorestal em Timburi. A ideia é implementar 100 hectares de agrofloresta em um ano e meio com agricultores familiares, recuperando APPs (áreas de proteção permanente), plantar muitas árvores, diversificar os cafezais e fortalecer a agricultura familiar da região.
Valter: Serão cerca de 30 agricultores, queremos fazer café agroflorestal e agregar valor a essa produção. Vamos buscar mercado e mudar o cenário de Timburi, vamos fazer um Timburi novo!
360: Vocês estão envolvidos em um projeto do príncipe Charles, da Inglaterra?
Valter: Sim. Fomos convidados pelo Príncipe Charles para liderar a frente agroflorestal da Circular Bioeconomy Alliance (Aliança pela Bioeconomia Circular), formada no final desse ano. Em janeiro, teremos a primeira reunião com o Príncipe, quando vamos definir as áreas de ação prioritárias na América Latina.
O 360 trará mais informações das atividades da Pretaterra nas próximas edições.
Info: Veja onde obter mais dados e acessar os cursos da Pretaterra: www.pretaterra.com
www.youtube.com/Pretaterra
www.Pretaterra.com/academy