O jornal existe, o rio existe, a cidade existe. Existimos. E queremos, todos, sem exceção, nos perpetuarmos, prolongarmos ao máximo essa misteriosa essência chamada vida.
No mês em que completamos 15 anos de existência, sem perder a orientação editorial original, sem nos corrompermos e nos mantendo fieis à missão de informar com ética e profissionalismo, estamos também concluindo um período que pôs à prova a nossa existência. É triste noticiar que nossa mais trágica previsão alardeada em abril deste 2020, que colocava o Brasil entre os campeões de mortes por Co-vid-19, algo estimado em 100 mil pessoas, estamos encerrando o ano prestes a completar o dobro desse número. A considerar os resultados diários, em janeiro serão pelo menos 200 mil pessoas residentes deste país que não resistiram à avassaladora onda de individualismo e, melhor dizendo, egoísmo que tomou conta desse país tropical bonito por natureza.
Em lugar da gente gentil, amigável, hospitaleira, que recebe estrangeiros com pompa e subserviência, estamos convivendo, há 10 meses, com o negacionismo, a teimosia e a irresponsabilidade de milhões de pessoas deste imenso Brasil. Elas estão por toda parte. Reunindo-se em festinhas privadas. Em jan-tares e mesas de bar, amontoando-se em compras, viajando para excursões às ruas do Brás, na capital de São Paulo. Estão nas ruas, tomando sorvete e caminhando sem máscara. Estão nas filas de bancos e lotéricas procurando ficar mais próximas, como se infringir as regras exaustivamente explicadas e divulgadas fosse alguma vantagem.
Essas pessoas estão também cuidando da própria beleza, da própria estética, frequentando academias, clínicas e salões de beleza, como se isso não pudesse representar a trágica notícia da morte de um pai, um tio, uma prima, uma irmã, um filho. Com esses, parecem não se importar, mesmo sabendo que são as maiores vítimas da epidemia, que maculou a qualidade do ensino e o ritmo da formação escolar em todas as esferas.
Quando poderia eu imaginar que seria tão repleto de uma dura e obscura realidade que escreveria o editorial deste jornal dedicado às boas notícias. O contraponto, que trago ao leitor é que em meio a toda essa gente que insiste em tapar o sol com a peneira e não enxerga um palmo diante do nariz. Em meio a tantos letrados que, expondo seu racismo e o fascismo que lhes corre nas veias, insistem em defender um governo indefensável e criminoso, nós existimos. E essa nossa existência, com a força de quem tem a luz e a clareza da solidariedade, da consciência coletiva e do caráter humanitário que deve conduzir um povo, não se extingue. Ela permanece, vívida, forte e determinada a contribuir para que o mundo seja efetivamente melhor. O que só é possível quando amamos o outro, seja ele quem for, como amamos a nós mesmos.