Meu pai, o “Paradinha” do Banco Do Brasil, gostava muito de contar histórias da Bíblia, principalmente as mais picantes do Velho Testamento.
A história preferida de papai era a do “Filho Pródigo”, da qual falaremos em outra ocasião, mas a minha preferida é essa, a que fala sobre a generosidade.
“O reino dos céus é semelhante a um pai de família que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. Não explorarás o assalariado pobre e necessitado, seja ele teu irmão, seja ele estrangeiro que mora na tua terra e nas tuas cidades. No mesmo dia lhe pagarás o seu salário, para que o sol não se ponha sobre a dívida, pois ele é pobre, e disso depende a sua vida; para que não clame contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado. E, tendo ajustado com os trabalhadores a um denário por dia, mandou-os para a sua vinha. Perto da hora terceira ele saiu e viu, na praça, outros que estavam desocupados. Disse-lhes: “Ide vós também para a vinha, e dar-vos-ei o que for justo.”
E eles foram.Saindo outra vez, perto da hora sexta e nona, fez o mesmo. Perto da hora undécima ele saiu e encontrou outros que estavam desocupados, e perguntou-lhes: “Por que estivestes aqui desocupados o dia todo?” Responderam-lhes: “Porque ninguém nos contratou.” Disse-lhes: “Ide vós também para a vinha, e recebereis o que for justo.” Chegada a tarde, disse o dono da vinha ao seu administrador: “Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos, indo até os primeiros.” Vindo os da hora undécima, receberam um denário cada um. Vindo, porém, os primeiros, pensaram que receberiam mais. Porém, também eles receberam um denário cada um.
Tendo-o recebido, murmuravam contra o pai de família. “Disseram: estes últimos trabalharam só uma hora e tu os igualaste conosco, que suportamos a fadiga e o calor do dia. Mas ele disse a um deles: “Amigo, não te faço injustiça. Não combinaste comigo um denário?Receba o que é seu e vá. Eu quero dar ao que foi contratado por último o mesmo que lhe dei. Não tenho o direito de fazer o que quero com o meu dinheiro? Ou você está com inveja porque sou generoso?”
A fala do fazendeiro generoso remete às expressões hebraicas “olho mau” e “olho bom”, as quais sugerem um contraste acentuado entre uma pessoa generosa cheia de bondade e alguém sovina e egoísta. O generoso é o “olho bom”, motivado pelo interesse abnegado em ajudar os outros e ver que as necessidades dessas pessoas são atendidas.
A pessoa egoísta é consumida por um interesse: aquilo que lhe pertence. Assim como ninguém deveria pensar mal de um bom homem que vai além da justiça e dá aos pobres, ninguém deve questionar a bondade e misericórdia de Deus, pois Suas recompensas não estão limitadas a cálculos rígidos.
Em minha época de estudante, quando morei em uma “república” que batizamos de “Dolce Vitta”, morávamos em 8, chegamos a morar em 12 estudantes. Uma escola de vida e uma das lições aprendidas é que podemos conviver diariamente com uma pessoa, às vezes anos, mas é em um momento, uma situação que verdadeiramente essa pessoa se mostra o que é, expõe seu coração, generoso ou egoísta. Essa crônica surgiu inspirada na generosidade de um primo.
Generosidade é sempre uma benção, uma dádiva. Crianças nunca a aceitam se é para um irmão e vem a clássica revolta: E eu? Muitos adultos, como os da Parábola de Cristo, também não aceitam e “fazem bico”. Um coração generoso causa sim, indignação. Generosidade causa espanto. Ser generoso é enfrentar desafios. Jesus nos leva, como sempre, a pensar!